quinta-feira, janeiro 27, 2005

Quem matou o homem aranha?


quarta-feira, janeiro 26, 2005

Psicologia? Politica? Quem paga a consulta?

Hoje não sei bem o que se passou, houve qualquer coisa em mim que deu de si. Não sei bem o quê, não sei bem que parte de mim hoje se foi a baixo e simplesmente perdeu a vontade de continuar a batalhar.

A primeira pergunta que me passou pela cabeça quando me deparei com este meu sentimento foi o de me auto diagnosticar, não fosse eu um quase psicólogo. A pergunta que me fazia ante tal desanimo era “será que estou com uma depressão e não dei por isso?”. Mas não, não era bem isso ainda que alguns dos sintomas latentes na minha maneira de estar dessem essa indicação. Era algo de mais profundo, algo de mais intrínseco, se é que é possível ter algo de mais profundo e intrínseco do que uma depressão, o questionar e duvidar da mais profunda essência do ser. Acho que não e no entanto aquilo que eu sentia era algo que ia para além disso.

Era talvez um sentimento de desanimo isto porque apesar de filiado politicamente quando olho à minha volta, quando olho, não para as minhas opções mas para as opções do País vejo que não é nada disto, está tudo errado.

Não é que eu não saiba em quem vou votar porque apesar de tudo sei. No entanto o meu voto será mais por descargo de consciência do que mobilizado pelo ideal que está subjacente ao voto, a escolha de quem eu quero para governar o meu País, em última análise quem eu quero para me governar a mim.

Quando postas as coisas nestes termos, nos termos de quem vai dar as linhas mestras para a minha evolução, crescimento e afirmação no mundo, quem vai determinar o espaço, a liberdade e condições que vou ter para conquistar o meu espaço, é quando as coisas são postas nestes termos que me vou abaixo. É quando olho com olhos de ver o que tenho pela frente que perco a esperança. E perder a esperança é a pior das coisas que nos pode suceder pois trata-se do último reduto, a última coisa que se perde. A esperança...

Foi isso que perdi quando hoje olhei para os títulos dos jornais, quando olhei para os placares de rua, quando ouvi as noticias na rádio. Foi a esperança que me abandonou. Lembro-me sempre das frases ditas na Assembleia da República pelo PS sobre o discurso de Durão Barroso quando este falava do estado da economia, “não podemos ter o discurso pessimista do país está de tanga...” a verdade no entanto é que hoje nenhum dos políticos que se afigura como candidatos a Primeiro Ministro me parece ter condições para ser o alfaiate, o alfaiate com capacidade de fazer um bom fato para Portugal. É que no meio disto tudo está muito frio e eu, como parte integrante deste país, não me sinto bem de tanga.

Queira Deus que apareça um alfaiate que nos tape as misérias e nos dê novo alento


JAlvim

sexta-feira, janeiro 14, 2005

Habitat for Humanity


www.habitat.org/uk/2004_1/photos/mozambique_1.jpg

Então para os mais nostálgicos e que já não aguentam aqui fica um novo desafio. Basta clicar no link do título deste post.

Na fotografia a imagem de uma família ajudada pela Habitat for Humanity em Mumemo onde trabalhei duas vezes por semana na minha última passagem por Moçambique. Na altura o grupo de trabalho (da Equipa d'África) era composto pela Nani, Paula, Alda, Nuno Antão, Sandra Quadrado (Espanhola), Ryan (norte-americano de passagem), Sylvan (Burundi) e acho que não me estou a esquecer de ninguém. Que saudade. Fica o desafio... quem sabe.

Nova palavra

Meus caros, ainda que seja Social Democrata convicto não pude deixar de achar piada a esta pequena sátira que me mandaram e que agora partilho convosco.

Nova palavra que deu entrada no dicionário português:

Santanice (de Portug. Santana) - acto ou acção de alguém que acaba sempre por prejudicar outro alguém e ser também ele prejudicado com esse acto ou acção, sem ter consciência disso. Forma de agir inopinada e irresponsável que prejudica toda a gente envolvida directa ou indirectamente na acção, sem que o autor tenha uma consciência absoluta dos consequências dessa acção - "fez-lhe uma santanice" " acabou por se santanizar" "se disse isso vai ser santanizado", estupidez, parvoíce, inexperiência, irresponsabilidade de grande dimensão, efeito negativo de algo dito ou feito por um inconsciente com poder para o fazer."


JAlvim

quinta-feira, janeiro 13, 2005

«Isto de estar vivo ainda um dia acaba mal»

«Isto de estar vivo ainda um dia acaba mal»

Achei esta pequena frase de um jovem neo-realista (já padecido como manda a tradição), de quem não me recordo do nome, simplesmente genial. Acho que tem um humor verdadeiramente sarcástico e negro, ao melhor estilo Deckiano, diria mesmo que está quase ao nível do placar que queremos por à porta da referida casa de tertulia com os pratos do dia.

Meu caro Castro, acho que tu mais do que qualquer pessoa vai achar piada a esta expressão.

JAlvim

terça-feira, janeiro 11, 2005

Ora sai uma bela película


fonte: lelievre.olivier.free.fr

Aconselho desde já a todos os cinéfilos a pegarem nos seus corpitos e dirigirem-se ao cinema mais próximo e verem este filme que reúne alguns dos nomes mais conhecidos do cinema norte-americano. Muito Bom!

Nota (1-5):

quinta-feira, janeiro 06, 2005

Fazes-me Falta

Faz hoje dois anos que voltei ao trabalho depois de 15 dias de férias no Brasil. Lembro-me que tudo foi em grande, nada faltou. Uma viagem em família e com uns amigos. Sabem como é, passar o Natal e a passagem de ano no Brasil, um cliché é certo mas no entanto não deixa de ser óptimo.

Mas, como dizia no inicio, faz hoje dois anos que voltei ao trabalho depois das férias, lembro-me que eram perto das 5 da tarde e me tinha acabado de sentar na cadeira, pronto para dar no duro e voltar aos meus telefonemas como os vereadores da cultura de diferentes câmaras. Ia ser um dia calmo e pacato, isto porque apesar da minha grande falta de organização, tinha deixado quase todo o trabalho feito antes de partir. Mas não, este ia ser um dia que me iria marcar para sempre.

Tinha acabado de fazer a marcação de um número quando a minha chefe entrou no gabinete. Ela que sempre fora alegre, extrovertida, com uma gargalhada vibrante entrou-me no gabinete num tom pacato e calmo, sem as habituais gargalhadas de boa disposição. Trazia na cara um sorriso, um sorriso daqueles de tristeza de quem não sofre mas vai fazer sofrer, um sorriso triste de quem afinal sofre mas sofre por correspondência, por simpatia. Era esse o sorriso que trazia.

Lembro-me tão bem, como se tivesse acabado de acontecer agora mesmo,
disse-me num tom meigo “ João, o teu avô sentiu-se mal hoje à tarde e teve que ir para o hospital... João, o teu avó morreu” Hoje, enquanto escrevo estas palavras vêm-me à memória todas as coisas que me passaram pela cabeça nessa altura... Primeiro a negação, não, o meu avô não pode morrer, depois a tristeza e a revolta. Lembro-me que as lágrimas me caíram pela cara a baixo sem que eu desse por isso, lembro-me que o sol se punha e eu, em silencio não percebia nada mas deixava que as lágrimas me caíssem pela cara.

Na altura a angustia foi grande, o sentimento de perca foi enorme, uma raiva doida por tudo não poder ser certo e calmo. Ninguém vê partir alguém de quem gosta muito depois de umas férias de sonho. Simplesmente não acontece, não está certo, mas estava, ainda bem que estava porque se assim não tivesse sido nunca teria ido a casa dos meus avós no dia antes... mas fui e a verdade é que tive a sorte de me despedir dele com calma, tive a sorte de puder desfrutar da sua companhia pela última vez.

Sou uma pessoa de sorte, agra que penso sobre o assunto, fui o primeiro neto, o primeiro neto que fez dele o avô João Pedro, o primeiro neto que lhe deu a primeira alegria enquanto avô e fruto das voltas que a vida dá fui o último que me despedi dele. Estranho mas é verdade, fui o ultimo neto a dizer-lhe adeus.

Hoje, dia em que faz dois anos que o meu avô morreu já não sinto tão grande revolta por me ter deixado, por ter partido. A dor, essa acho que nunca passa, está sempre cá como um espinho na carne, dói mas aos poucos passa a fazer parte de nós, passa de objecto estranho para algo que é nosso. Hoje, o que sinto verdadeiramente é a saudade, a saudade de um avô que não falava muito mas que sorria e que quando ninguém via fumava os seus cigarros, o avô que embora não fosse muito dado às pescas vinha pescar comigo para o rio, o avô que nas noites frias das beiras me lia histórias fantásticas de terror e de suspanse, o avô que me ensaiou a jogar bilhar na mesa lá da quinta, a mesma mesa que não quero ver arranjada porque me faz lembrar como era divertido, já na altura, ver como as bolas faziam efeitos estranhos quando batiam nas tabelas porque estas estavam estragadas, o homem que nesse dias de divertimento me dava, sem eu saber, as primeiras lições de vida não por palavras mas por actos. Ensinava-me a mim com tanto afinco como ensinava o filho da mulher a dias e não fazia destrinça entre nós.

Hoje, enquanto escrevo esta minhas palavras e tento na minha estranha forma de ser, que herdei em parte dele, dizer-lhe que me faz falta. Mais do que todo o resto fazes-me falta

JAlvim

terça-feira, janeiro 04, 2005

O Último Voo do Flamingo


Fonte: http://bornova.ege.edu.tr

Acabei de ler à pouco mais de uma semana um livro extraordinário que dá pelo nome de “o último voo do flamingo”. Escrito por Mia Couto, é sem duvida um livro extraordinário, dos melhores que tenho lido nos últimos tempos e, vão me permitir a ousadia de dizer que, provavelmente este é o melhor livro o que o autor escreveu até ao momento.

Sempre que li um dos anteriores livros de Mia Couto senti que este escrevia sempre sobre uma terra que já não existia e que passou, acho mesmo que Mia Couto escrevia não sobre o Moçambique que existe ou existiu mas antes sobre o seu Moçambique idealizado, aquilo que ele gostava que fosse ou pelo menos que tivesse sido aquela terra.

Nos livros anteriores, ainda que os traços da cultura e da terra lá estivessem, as personagens não tinham rosto, eu não lhes conseguia dar o rosto das pessoas que conheci e que encontrei em Moçambique. Esses livros eram sem duvida histórias fascinantes que me fizeram sonhar e imaginar também um pouco desse Moçambique tão extraordinário, com uma cultura tão própria e tão misteriosa, uma terra em que o sonho é tão verdadeiro como a realidade e em que os mortos vivem mais do que os vivos. Ainda assim, essa leitura não me dava o quadro autentico, dava-me uma imagem rude, desfocada e no entanto mais bonita do que o quadro verdadeiro. Os anteriores livros e Mia Couto tiveram em mim um efeito pedagógico, o de me fazer ver e reparar em todas as tradições e rituais do povo moçambicano.

Não quero com o comentário anterior tirar o mérito aos outros livros de Mia Couto, queria antes enaltecer este “último voo do flamingo”, é que é de tal maneira bem escrito que as personagens não são meras personagens, são pessoas, pessoas verdadeiras de carne e osso que conheci, têm rosto, sentimentos, são verdadeiras. O governador tão bem descrito, não podia ser um retracto mais fiel dos governadores que encontrei, a personagem principal, tão igual a tantas pessoas que conheci por lá, sempre prontas a ajudar e a mostrar com orgulho a sua terra, ainda que com os velhos a abanar a cabeça e a dizer que os jovens já não têm respeito pelas tradições etc... Até eu me revi na pessoa do investigador, perdido em Moçambique, apaixonado por tudo quanto vê mas sem conseguir perceber bem... Tudo é grande demais, maior do que nós, tudo nos ultrapassa na nossa capacidade de perceber o que nos rodeia e no entanto, quando olhamos com atenção e tentamos ser objectivos, vimos que esse tudo não é mais do que um nada misturado com um pouco de coisa nenhuma, fazendo com que nós próprios queiramos com fazer parte de tudo o que é esse nada.

Em suma e em jeito de conclusão, não posso deixar de referir que este livro tem ainda outra grande virtude na mensagem, a de nos mostrar no que se vai transformando Moçambique, o caminho que está a tomar. É um alerta, um grito de chamada de atenção de quem ama aquela terra com toda a força que possui, com tudo o que é. Um pedido de ajuda para salvar Moçambique e evitar a queda no abismo. Depois de ler este livro fiquei com a ideia nitida de que ainda falta cumprir-se Moçambique e que o temos que ajuda a ser. Como a personagem principal tão bem nos mostra, há tanta gente a desconseguir e a desarranjar esse país que só as almas que dele nada querem o podem ajudar.

Recomendo vivamente este livro a quem já esteve por lá e tem saudades bem como a quem quer conhecer um pouco mais sobre o verdadeiro Moçambique, é que tudo neste livro é tão real que ainda sinto na boca o sabor da sua terra e no nariz o cheiro do seu ar, misturado, como não podia deixar de ser, com um pouco de misticismo, tão real por lá e tão esquecido por cá...

JAlvim



segunda-feira, janeiro 03, 2005

A falsa História


fonte: www.syracuse.com

Então tomem lá um belo texto que o João César das Neves escreveu no Diário de Notícias de hoje na habitual crónica "Não há almoços grátis". Recomendo-o especialmente ao Francisco Salvação Barreto porque ele está a ler o livro de E. P. Sanders. Abraço

"Dois dos livros mais oferecidos neste Natal foram O Código da Vinci de Dan Brown (Bertrand, 2004) e A Verdadeira História de Jesus de E. P. Sanders (Notícias, 2004). Nas suas diferenças, incluem uma oculta característica curiosa a própria base de raciocínio destrói-lhes a veracidade.
Ambos partem do princípio de que os Evangelhos são falsos. A razão, que repetem sucessivamente, é que os textos bíblicos foram escritos por fiéis várias décadas após os acontecimentos, o que lhes retira credibilidade. Mas eles, escrevendo dois mil anos mais tarde com base em crenças modernas, é que julgam relatar com segurança «a verdadeira História» do que aconteceu. Seria ridículo, se não fosse triste, pois os dois, mas sobretudo o teólogo Sanders, têm pretensões científicas.
O que não dizem é que neste campo essa abordagem pouco ou nada tem a ver com a solidez da Física ou até da História.
Eles não conseguem provas científicas, em qualquer dos sentidos, das palavras «provas» e «científicas». Existe investigação séria e factos prováveis, mas depois combinados em especulações e construções hipotéticas que, mesmo quando escoradas em argumentos respeitáveis, não têm qualquer garantia da certeza de outros ramos intelectuais.
Nesta disciplina o trabalho de cada investigador é construir uma teoria para compatibilizar os dados disponíveis da forma mais plausível. Nas lacunas ou contradições, esquecem uns, empolam outros. Por isso há tantas. Se a sua doutrina convencer os colegas, a tese ganha chancela de «resultado científico». Mas no tribunal da História, como nos outros, a principal fonte válida é a afirmação das testemunhas. «Aquele que viu estas coisas é que dá testemunho delas e o seu testemunho é verdadeiro» (Jo 19, 35). Desprezando isso, para mais a milénios de distância, perde-se a verdade e entra-se na ficção.
Estas teorias sofisticadas têm fatalmente de ser quase só fantasia.
Isso vê-se bem quando é descoberto um novo elemento objectivo, normalmente em escavações arqueológicas, e vários «resultados científicos» voam em estilhas, mostrando que as suas certezas seguras tinham mais de certezas que de seguras.
A data dos Evangelhos, por exemplo, ainda há pouco considerada muito tardia, tem vindo a ser aproximada do tempo de Jesus à força de achados da arqueologia.
Além disso, a questão aqui não é histórica. O que nos interessa na personagem de Jesus é saber se fez milagres, se ressuscitou dos mortos, se é filho de Deus. Qual a escavação, análise textual ou experiência laboratorial que permite a certeza quanto a isto? A ciência, por definição, não entra nestes campos, como na determinação do melhor bolo-rei ou do vencedor das eleições. Aduzir resultados científicos nestas matérias é arrogância tonta.Os dois livros são pois manifestos religiosos sob capa objectiva.
O Código da Vinci não esconde crenças gnóstico-esotéricas.
A Verdadeira História oculta uma fé cientifista. A hipótese de partida é que há um Jesus histórico, que não interessa se é Deus ou ressucitou. A sua «verdadeira História» é mundana e separável de questões espirituais e sectárias. Pode separar-se Mozart da sua música? O Marx histórico não é revolucionário?Isto, além de ser mera convicção de fé materialista (onde está a prova?), mostra uma tacanhez de espírito nada científica. Estar fechado a outras possibilidades foi sempre o maior obstáculo à descoberta da verdade".
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