quarta-feira, novembro 23, 2005

O Presidente


Fonte; multimedia.iol.pt

Uma das acusações mais recorrentes à postura de Cavaco Silva é a de que já age como se fosse Presidente da República. Diz-se que Cavaco não fala, não opina, não toma posições, porque se acha já convencido que irá ganhar as eleições e que, por isso, já se comporta como Chefe de Estado.
Não fala de tudo e mais um par de botas. Diz o essencial.
Não opina, porque não se sente confortável a mandar opiniões ao vento e porque sabe que o lugar a que se candidata pouco deixa de espaço a opiniões ou a impressões: os poderes do Presidente da República, como o veto, a dissolução da Assembleia da República ou a exoneração do primeiro-ministro, não são matéria passível de “opiniões”, como se da mesa de um café o Presidente arbitrasse o jogo político.
Por fim, Cavaco Silva não toma posições. Ou melhor, toma posição só sobre alguns assuntos, deixando de fora questões como a guerra ao terrorismo, os ‘cheliques’ da França jacobina e anti-americana e o anti-americanismo de Bush que pisa a liberdade e a democracia pensando que as está a promover.
E não o faz por duas razões: primeiro, porque a maior parte destes assuntos é tratado, de forma directa, pelo poder executivo (governo) e não pelo Presidente; segundo, porque até tomar posse, se vier a tomar, o Palácio de Belém é ocupado por outro inquilino, Jorge Sampaio.
Alguns dir-me-ão que os portugueses não podem votar no escuro e que precisam saber o que vai na alma do candidato. E Cavaco já respondeu. Respeitará as decisões do governo e do parlamento.
De facto, acabo por concordar: Cavaco comporta-se com PR. E é disso mesmo que os portugueses querem tratar quando estiverem no segredo da urna de voto: eleger um Presidente da República.

quarta-feira, novembro 16, 2005

E pimba!

São impressionantes, para um católico, mas igualmente para qualquer outro cidadão de outra religião, ou ateu, ou simplesmente desatento, as imagens de fé que levaram, no sábado, centenas de milhares de pessoas a acompanhar a imagem de Nossa Senhora de Fátima pelas ruas de Lisboa.

Não é vulgar, nem comum, em país algum, que uma procissão, numa capital despovoada, ao final da tarde, com um tempo pouco agradável, junte tantos fiéis, homens da Igreja, católicos serenos ou afastados das igrejas, e dos rituais dominicais, para seguir com fé e evidente crença a manifestação que deu lugar à consagração da cidade a Nossa Senhora. E as imagens mostraram pessoas de todas as idades, jovens e idosos, classes distintas, raças diferentes, mas todos unidos pela mesma devoção.

É bom que a Igreja, e as suas imagens, saiam dos seus redutos e locais de culto para se misturarem com os cidadãos comuns, anónimos, e que pela magnitude evidencia-da, não se reproduz, de nenhu-ma forma, no que se vê, diaria-mente ou aos domingos, nas missas rezadas nas dezenas de igrejas da capital. Foi inédito, grandioso, elevado e regenera-dor, particularmente num mo-mento do País e dos portugue-ses em que nada dá esperança, em que o futuro é uma incógni-ta e em que as dificuldades se avolumam. É nisto que a religião católica, como outras, noutras partes do mundo, se eleva e transforma as pessoas. Nossa Senhora de Fátima tem uma força popular explicável, e que todos os anos se renova no seu santuário, mas que desta vez desceu à capital e produziu o milagre de juntar mais fiéis do que, eventualmente, alguma vez se concentraram em Fátima. Portugal é um país católico, mas tímido nessa demonstração, no seu dia-a-dia, mas que aparece em momentos excepcionais e quando a grandeza da ocasião chama por si. No sábado, Lisboa foi um santuário improvisado, repleto, mostrando que tem uma fé inabalável na Igreja Católica Romana e na Mãe de Cristo.
Calem-se, por um momento, os que achavam o contrário, e que no seu pessimismo agnóstico e militante tentavam reduzir a Igreja a um bastião ultrapassado e sem futuro. Lisboa católica provou estar viva e empenhada e com uma fé inabalável.

Luís Delgado
In DN

quarta-feira, novembro 09, 2005

Precisa-se de matéria prima para construir um país.


A crença geral anterior era de que Santana Lopes não servia, bem como Cavaco, Durão e Guterres. Agora dizemos que Sócrates não serve. E o que vier depois de Sócrates também não servirá para nada. Por isso começo a suspeitar que o problema não está no trapalhão que foi Santana Lopes ou na farsa que é o Sócrates. O problema está em nós. Nós como povo. Nós como matéria prima de um país. Porque pertenço a um país onde a ESPERTEZA é a moeda sempre valorizada, tanto ou mais do que o euro. Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família baseada em valores e respeito aos demais. Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas caixas nos passeios onde se paga por um só jornal E SE TIRA UM SÓ JORNAL, DEIXANDO-SE OS DEMAIS ONDE ESTÃO.

Pertenço ao país onde as EMPRESAS PRIVADAS são fornecedoras particulares dos seus empregados pouco honestos, que levam para casa, como se fosse correcto, folhas de papel, lápis, canetas, clips e tudo o que possa ser útil para os trabalhos de escola dos filhos ... e para eles mesmos. Pertenço a um país onde as pessoas se sentem espertas porque conseguiram comprar um descodificador falso da TV Cabo, onde se frauda a declaração de IRS para não pagar ou pagar menos impostos. Pertenço a um país onde a falta de pontualidade é um hábito. Onde os directores das empresas não valorizam o capital humano. Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e depois reclamam do governo por não limpar os esgotos.
Onde pessoas se queixam que a luz e a água são serviços caros. Onde não existe a cultura pela leitura (onde os nossos jovens dizem que é "muito chato ter que ler") e não há consciência nem memória política, histórica nem económica. Onde os nossos políticos trabalham dois dias por semana para aprovar projectos e leis que só servem para caçar os pobres, arreliar a classe média e beneficiar a alguns.

Pertenço a um país onde as cartas de condução e as declarações médicas podem ser "compradas", sem se fazer qualquer exame. Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no autocarro, enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme para não lhe dar o lugar. Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o peão. Um país onde fazemos muitas coisas erradas, mas estamos sempre a criticar os nossos governantes.

Quanto mais analiso os defeitos de Santana Lopes e de Sócrates, melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem corrompi um guarda de trânsito para não ser multado. Quanto mais digo o quanto o Cavaco é culpado, melhor sou eu como português, apesar de que ainda hoje pela manhã explorei um cliente que confiava em mim, o que me ajudou a pagar algumas dívidas.
Não. Não. Não. Já basta.

Como "matéria prima" de um país, temos muitas coisas boas, mas falta muito para sermos os homens e as mulheres que nosso país precisa. Esses defeitos, essa "CHICO-ESPERTERTICE PORTUGUESA" congénita, essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até se converter em casos escandalosos na política, essa falta de qualidade humana, mais do que Santana, Guterres, Cavaco ou Sócrates, é que é real e honestamente ruim, porque todos eles são portugueses como nós, ELEITOS POR NÓS. Nascidos aqui, não em outra parte... Fico triste. Porque, ainda que Sócrates fosse embora hoje mesmo, o próximo que o suceder terá que continuar trabalhando com a mesma matéria prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos. E não poderá fazer nada... Não tenho nenhuma garantia de que alguém possa fazer melhor, mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá. Nem serviu Santana, nem serviu Guterres, não serviu Cavaco, e nem serve Sócrates, nem servirá o que vier. Qual é a alternativa?
Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a força e por meio do terror? Aqui faz falta outra coisa. E enquanto essa "outra coisa" não comece a surgir de baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro para os lados, ou como queiram, seguiremos igualmente condenados, igualmente estancados....igualmente abusados! É muito bom ser português. Mas quando essa portugalidade autóctone começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação, então tudo muda... Não esperemos acender uma vela a todos os santos, a ver se nos mandam um messias.

Nós temos que mudar. Um novo governante com os mesmos portugueses nada poderá fazer. Está muito claro... Somos nós que temos que mudar. Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que nos anda a acontecer: desculpamos a mediocridade de programas de televisão nefastos e francamente tolerantes com o fracasso. É a indústria da desculpa e da estupidez.
Agora, depois desta mensagem, francamente decidi procurar o responsável, não para castigá-lo, senão para exigir-lhe (sim, exigir-lhe) que melhore seu comportamento e que não se faça de mouco, de desentendido. Sim, decidi procurar o responsável e ESTOU SEGURO QUE O ENCONTRAREI QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO. AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO PROCURÁ-LO EM OUTRO LADO. E você, o que pensa?.... MEDITE!


EDUARDO PRADO COELHO
in Público

sexta-feira, novembro 04, 2005

Eu gosto deles!

E eu pergunto, a quem me saiba responder, porque é que os Coldplay não ganharam mais prémios?
Pergunto-me porque é que um grupo que escreve e compõe músicas sempre iguais, sem grande capacidade musical, ganha os dois prémios mais importantes dos EMAs. Alguém me consegue explicar?
Tudo bem que tem que se dar lugar aos novos, mas os greenday não são novos e há prémios indiscutíveis. Eu dava mais prémios aos coldplay... Ai, se fosse eu que mandasse!

quarta-feira, novembro 02, 2005

O árbitro é careca


im.rediff.com

Fernando Rosas, in Público de 2 de Novembro de 2005 (hoje)

«Não creio que a verdadeira entronização antecipada de Cavaco Silva como futuro Presidente da República levada a cabo, quase sem pudor, por parte da comunicação social, com destaque para o eixo Expresso (transformado em oficioso do PSD e do seu candidato), SIC e demais adjacências jornalísticas do grupo Balsemão, não creio que essa ofensiva manipulatória nos deva impedir de porfiar no debate acerca da natureza política e ideológica do neocavaquismo que aí está».

Como no futebol, esta diabolização da «ameaça» que dá pelo nome de Cavaco Silva soa como aqueles adeptos que, perante o bom jogo da equipa contrária, se viram constantemente para o árbitro a pedir satisfações. Esta pré-capanha está a ser uma excelente aula prática de como atirar tiros no próprio pé e sem se dar conta. Não fosse o facto de adorar Portugal, esta deriva em parafuso de toda a esquerda até podia ser divertida...

ps: Fernando Rosas esquece que a «verdadeira entronização antecipada» se dá tendo em conta as sondagens que, por sua vez, dão a Cavaco Silva a vitória em qualquer dos cenários possíveis. Vistas curtas, dos não democratas num regime que se baseia, todo ele, na simples possibilidade de votar. Fazia bem à nossa democracia começar por ter bons democratas.

E a minha avó, não tem direito?



Como primeiro post em vários meses achei por bem ser alguma coisa revoltante, imcompreensível ou até ridículo. Cá está!

Aposto que ninguém tem nada a dizer...
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