quinta-feira, março 31, 2005

Solto no tempo, solto no espaço, preso a ti

Hoje voei a teu lado e fiz do teu olhar o meu horizonte, fui pôr-do-sol contigo e à noite chamei-te saudade. Devagar e com um gesto lento tapaste-me o olhar. O pano era negro.
Desfizeste o meu sonho numa fracção do teu respirar, soltaste o sangue que me corria nas veias e mais leve voltei a sonhar. Pede-me aquilo que não te sei dar, baralhas-me e voltas-me a dar, entregas-me ao mundo como filho mal amado e no silencio do frio roubas-me o manto que me deixava destapado. Contigo a meu lado canto velhas glórias do passado, lembro as saudades de me ver partir e perco-me contigo na esperança de um dia me ver chegar.

Chamo-lhe inverno, chamo-lhe verão, calor que arde e que me faz abrir a mão. Abrir a mão de ti é deixar um rasgo de dor entrar, é sentir que rasgo de novo uma ferida que o tempo demorava a fechar. A dor de sentir que sangro, a dor de voltar a respirar, a dor a voltar a...
Será que vou voltar, será que não se perde o caminho? Caminhar na noite sozinho com a cara tapada? O pano de negro quem mo deu? quem me tapou a cara e me largou no nada? A escuridão, quem me ampara? Solta o grito que te prendo na alma, conta-me tudo o que não consegues chorar e deixa que a chuva te molhe a cara. Corre comigo mas leva-me pela mão, não te esqueças que tenho a cara tapada... leva-me pela mão esquerda, leva-me contigo e eu estarei sempre a teu lado, pela esquerda... vai mas leva-me devagar que eu não vejo a estrada. Corre comigo mas não corras muito, sentes o mundo a passar? Não te esqueças do que já esqueci, não te esqueças que a verdade é que...
Palavra que procuro, será essa, a que tu pensas? Será essa a verdadeira palavra que me falta? Aquela que não consigo prenunciar? Esquece-te que és madrasta, aninha-me a teu colo, não imaginas como me faz falta o calor desse teu ventre que me não deu a viver, não te lembras? Já lá vai o tempo em não te nasci... Fecha os olhos e partilha comigo o voo, o calor, o horizonte, o meu infinito, o meu fim. Fecha os olhos e vem comigo ou então solta-me do pano que me tapa a cara e os olhos e deixa-me viver, vendo e olhando nesta minha cegueira...
Dedicado a ti, aquele amor que me ficou preso nas veias

JAlvim
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