quarta-feira, abril 12, 2006

Economia Alternativa

O eurodeputado português Mendes Bota, julgando que estava a prestar serviço à comunidade, denunciou que vai ser construída uma gigantesca casa de meninas com centenas de quartos equipados com casa de banho privativas ao lado do estádio de Berlim para, ao que parece, providenciar ocupação de tempos livres aos milhares de adeptos de futebol que se deslocarão à alemanha para assistir ao Mundial. A novidade, se assim se pode chamar, é ainda acompanhada pela informação de que os empresários do ramo se preparariam para levar para a Alemanha a tempo do Mundial entre 30 a 60 mil mulheres destinadas a suprir as carências de mão-de-obra provocadas por este aumento de infra-estruturas na indústria do sexo.

Esta denúncia enche-nos por certo de orgulho por saber que um eurodeputado português anda com o olho atento à situação da prostituição na Alemanha. Quem tivesse dúvidas sobre para que server e o que fazem os eurodeputados pode agora ficar esclarecido. Mas será talvez de fazer a ressalva de que sendo o comércio do sexo uma actividade legal naquele país, e sendo a polícia, o fisco e o sistema judicial alemães reconhecidamente mais eficazes do que os seus congéneres portugueses, talvez as autoridades de Berlim consigam controlar sozinhas o problema sem a mãozinha dos nossos eurodeputados. Afinal, se a coisa for construída legalmente debaixo da fiscalização rigorosa das autoridades competentes, será mais um atractivo turístico gerador de receitas fiscais para o Estado alemão, o que vendo bem as coisas até é bom para nós. A Alemanha é o maior contribuinte do orçamento da União Europeia, e se queremos continuar a receber subsídios comunitários para construir auto-estradas, o TGV e o aeroporto da OTA, é de saudar esta demonstração de crescimento da economia germânica. E "en passant", os berlinenses só podem ficar satisfeitos com este investimento para os tempos livres dos adeptos de futebol estrangeiros que os vão visitar.
É melhor que estejam sossegados entregues às doçuras de Vénus contribuindo vigorosamente para o aumento das receitas fiscais do que andarem pelas ruas feitos "hooligans" a partir coisas.

Talvez os nossos eurodeputados devessem deitar o seu olho atento à frente doméstica do comércio do sexo. A prostituição em Portugal não sendo autorizada também não é proibida, o que cria um "vazio legal" absurdo. É uma situação onde só há desvantagens, sem que se retire daí qualquer proveito, seja para o Estado sob a forma colecta do IVA e do IRS, ou para os clientes sob a forma de protecção sanitária, e para as próprias trabalhadoras que ficam presas fáceis dos industriais e das máfias do ramo. Basta passar os olhos pelas páginas dos pequenos anúncios dos jornais ou dar uma volta à noite pelas ruas das grandes cidades para ver que a prostituição em Portugal é uma actividade em crescimento rápido.
Em todo o mundo a prostituição e a pornografia são as actividades que movimentam mais dinheiro. Não há cidade ou vila onde não haja um bar de "alterne" , um estabelecimento de "strip-tease" ou as mais tradicionais pensões e casa de meninas. Todas as semanas os jornais noticiam a detenção de dezenas de mulheres ilegais que, por falta de verba para as recambiar para os seus países, regressam à "noite" mal são libertadas. Tentar combater esta chaga olhando para o lado com pudor ou fazendo denúncias escandalizadas não leva a lado nenhum e apenas a perpétua. É uma situação em que o moralismo nem resolve nem sai de cima.


José Júdice, in Metro
Site Meter