quarta-feira, junho 15, 2005

Les Misérables



É de facto chocante olhar para estas imagens novamente. O arrastão da praia de carcavelos, que durante uns minutos semeou o pânico em pessoas inocentes que calmamente ia a banhos em mais uma praia da linha do Estoril, leva-nos ao mais fundo da nossa miséria como país e levanta o véu do que poderá ser Portugal daqui a uns anos: um punhado de ricos senhores que separados por um fosso enorme olha os miseráveis delinquentes bárbaros que tudo levam atrás. E assim vamos alegremente parar ao fundo e já com tiques de terceiro mundo.Este arrastão é um primeiro sinal do que os portugueses poderão vir a ser no futuro. Uns bárbaros. E lembrem: eles são portugueses. Não é por terem a pele de cor diferente que perdem a nacionalidade... talvez esta noção possa ajudar a compreender o fenómeno e a dar-lhe solução. De facto o mais fácil seria 'mandá-los para África' como se constuma dizer à boca cheia. Pois eu acho que não!

Afonso Vaz Pinto

4 Comments:

Blogger BMe said...

Adorava saber qual é o problema...ou os problemas.
Tornava-se muito mais fácil resolver ou, pelo menos, atenuar o que aí vem.

O que é que se pode fazer?

Compreender?... Ajudar? Como? E será que querem ser ajudados ou é mais fácil roubar que picar o ponto. Ser vítimas e fazer vítimas, do que fazer pela vida?
Não sei o que se poderá fazer.

10:58 da tarde  
Blogger Nico said...

Pois é de facto uma vergonha, mas a pergunta que se faz neste momento (o que fazer???) mantém-se de pé e pelos vistos nao há ainda solução (nenhuma viável por enquanto).
Concordo com a Sara quando questiona o facto de: "será que querem ser ajudados?!"
Muito sinceramente não sei onde vamos parar! Mas não é ignorando que se chega a algum lado.

11:13 da tarde  
Blogger Afonso Vaz Pinto said...

À pergunta "se querem ser ajudados" eu respondo com o que responderia a uma criança no pico da idade do armário: querem ajuda, de facto, mas não querem saber que estão a ser ajudados. Têm orgulho próprio.
Quanto às soluções, é sempre mais difícil... No entanto, julgo que o facto de não estarmos a olhar para estes pobres coitados como um "bando de pretos" já é um óptimo ponto de partida. Eles são tão "tugas" como nós.
Depois temos que compreendê-los: são portugueses, mas descendentes de emigrantes africanos. São, na maior parte dos casos, netos desses cabo-verdianos, guineenses, angolanos, que vieram para Portugal à espera de encontrar melhores condições de vida.
No entanto, esta terceira geração de portugueses “luso-africanos” encontra-se numa verdadeira encruzilhada: não se sentem africanos, uma vez que já vão longe as raízes africanas; depois não se sentem portugueses porque “nós” os olhamos como os “pretos” que, se levantarem a voz, devem “voltar p’ra África”.
Eles ficaram numa espécie de limbo social, sem referências civilizacionais… O irónico é que esta geração se aproxima mais da cultura norte-americana do gang de arma na mão – e agora com gostinho a Brasil – em vez de se sentirem o que de facto são: portugueses de pleno direito e africanos na sua origem.
Não nos podemos esquecer ainda do factor “dinheiro”. Se roubam é porque querem dinheiro. Para gastar em roupas melhores que as minhas, para as drogas, bebidas. Não interessa. Querem dinheiro.
Se me permitem “esgalhar” uma conclusão: o que estes “pobres” portugueses precisam é de afecto, tal como uma criança na puberdade. De atenção (é isso que eles querem quando fazem coisas destas, se quisessem dinheiro assaltavam um banco).
Tal como uma criança na idade do armário… estranham o corpo que têm, não aceitam a sua condição e sentem um mal estar latente em todo o universo. Nós… respondemos com o que temos vindo a fazer, aqui e ali, com maior ou menor intensidade: dar explicações no Bairro 6 de Maio, ATL da Galiza, ir a Moçambique em Missão… qualquer coisa. O que é importante é que eles sintam que, para além de serem tão portugueses quanto nós, há quem olhe para eles com afecto…

Ps: este é um caminho que leva tempo, mas que acho que vale a pena. Mandar polícias de arma em punho não resolve rigorosamente nada. Só cria mais medo e desconfiança. Separa os Bons dos Maus. Os Virtuosos dos Pulhas. E isso é errado.


Afonso Vaz Pinto

9:47 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

a unica coisa que tenho a dizer:

Há pretos, brancos, indianos, brasileiros e "russos" por todo o país! todos eles são educados. O problema é da sociedade, e esta historia do arrastão (que nunca aconteceu) so serviu pra confirmar que mais de 50% do país é racista! notam-se pelos comentários precipitados e manifestos sem razão. Nao existiram furtos, existiram expeculações.
Um "bando" de pessoas a correr pela praia fora ser chamado de Selvagem é uma atitude ridicula e racista.

A ajuda vem da nossa atitude, nós é que temos que nos ajudar. a limpar a nossa mente de preconceitos!!!!!
nao tratar aquela pessoa de uma determinada maneira pq é de origem africana ou brasileira.

Os meios de comunicaçao social sao os novos educadores da sociedade. Moldam as mentes, e noticias como estas que sairam nos jornais, são um dos principais responsáveis pela deformação do país.
Mais que isso, temos que abrir os olhos e não nos rendermos à opinião dos outros. temos que fazer o nosso juizo de valor.

Por mais que tenhamos atitudes racistas mesmo inconscientemente, ha que corrigir.


é mais facil para nós ver que os outros é que roubam, matam e esfolam, ERRAM! NAO!

Nao estão bem atentos às noticias dos jornais com certeza. so se lê o que nos convém. Quantos maridos portugueses brancos matam as mulheres, quantos jovens brancos nao se drogam e roubam prá droga...

Abram os olhos.


3 Anos depois do Arrastão ainda vale a pena reflectir sobre as nossas atitudes.

2:15 da tarde  

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