Ainda se lembra da gripe A? Justificou a mais maciça campanha de informação, consciencialização e profilaxia da história nacional. Todas as instituições e edifícios públicos foram dotadas de cartazes, panfletos, salas de gripe e dispensadores de desinfectante.
Estado, empresas e cidadãos gastaram milhões nisso, além das despesas com especialistas em serviços de atendimento e milhões de doses de vacina. Foi sem dúvida uma das mais organizadas e exaustivas iniciativas públicas de sempre. As autoridades estiveram ao nível das exigências. Só a gripe não correspondeu às expectativas.
Não foi por falta de colaboração da imprensa, que se fez eco do mais pequeno aviso e empolou todos os medos, cautelas e informações. Políticos, comentadores e funcionários, todos entraram na febre da gripe. Mesmo agora jornais e televisões continuam a colaborar e não desistem de procurar afanosamente novos surtos para manter o nervosismo. O que faltam são doentes.
Houve pessoas afectadas e até mortes, como todos os anos na gripe habitual. A situação está longe da paralisante catástrofe anunciada. O país sofreu mais com a despesa que com a doença. Como muitos médicos diziam há muito em privado, o grau de alarmismo e movimentação era demente. Aliás, bastava comparar os esforços portugueses com os dos nossos parceiros para ver a diferença. Se Portugal tinha razão sobre o perigo gripal, então todos os outros países eram inconscientes.
Ninguém será responsabilizado por este enorme desperdício. Será que ao menos alguém aprenderá com ele?
João César das Neves, in Destak 24/03/2010