terça-feira, julho 19, 2005

Pobres dos nossos Ricos


Foi riqueza o que levámos para África meus caros. E África tornou-nos ricos. Na fotografia a Nani pega numa criança algures do caminho de Marracuene para o Jays Place na Macaneta, a norte de Maputo, Moçambique.

Publicado em Janeiro de 2003 no semanário moçambicano Savana e reeditado no último livro de Mia Couto, Pensatempos, este excerto soa-me um bocado a Portugal. Vale a pena lê-lo.

«A verdade é esta: são demasiado pobres os nossos «ricos». Aquilo que têm, não detêm. Pior: aquilo que exibem como seu, é propriedade dos outros. É produto de roubo e negociatas. Não podem, porém, estes nossos endinheirados usufruir em tranquilidade de tudo quanto roubaram. Vivem na obsessão de poderem ser roubados. Necessitavam de forças policiais à altura. Mas forças policiais à altura acabariam por lançá-los a eles próprios na cadeia. Necessitavam de uma ordem social em que houvesse poucas razões para a criminalidade. Mas se eles enriqueceram foi graças a essa mesma desordem.»
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