quarta-feira, fevereiro 23, 2005

O Choque Teratológico*


Fonte: bonbobgifts.com

VASCO GRAÇA MOURA
Diário de Notícias, Quarta-feira, 23 de Fevereiro de 2005

"Ora, ao contrário do que sustentam os socialistas e os analistas, o eleitorado português não apostou na mudança. É conservador, corporativo e retrógrado. Essa é a estabilidade que pretende lhe seja garantida. Por isso é que não precisava de esclarecimentos nem de discussão dos programas. Por isso é que não se importou com a súbita metamorfose das "promessas" em "objectivos". Objectivos assim não comprometem ninguém nem impõem sacrifícios a ninguém. Não garantem rigor e, para os estultos, dispensam austeridade e apertos de cinto.
O eleitorado já vinha a sentir grande mal-estar nos tempos do Governo de Durão Barroso. Estava a pagar os malefícios da governação socialista e não queria ter de pagá-los. Está-se nas tintas para coisas como o desenvolvimento sustentado, o equilíbrio das contas, a contenção da despesa pública, a sorte das gerações futuras, etc., etc.
Tudo ponderado, prefere que o estilo PS seja reeditado, se possível para pior. Não levou a bem o desconforto imposto pela coligação PSD-CDS/PP. Decorridos três anos, precisava, sim, de que lhe acenassem com um regresso aos tempos do guterrismo e, muito em coerência com isso, apostou em que nada mudaria, de modo a que o Estado continue a cuidar de tudo, a pagar tudo, a subsidiar tudo, a suportar tudo e, last but not least, a empregar cada vez mais gente. Esse é o "milagre da rosa" que o mobilizou e que ele deseja e aplaude".

*Teratológio (de Teratologia): do Gr. téras, tératos, monstro + lógos, tratado: s. f., ciência biológica que se ocupa dos defeitos de conformação e monstruosidade ou anomalia dos seres vivos.
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